quinta-feira, 1 de abril de 2004

Cámónes

Tenho alguma simpatia por turistas. Não os que se multiplicam pelo Algarve, gosto mais dos que andam por Lisboa. Confesso que até dou comigo a esboçar-lhes um sorriso de vez em quando. Alguns até são muito bimbos e, na minha opinião, denunciam demasiado a sua condição de diferente, a sua condição de estranho, de deslocado que, em bom rigor, só existe porque estão aqui, não se trata de nada permanente nem nada que os acompanhe sempre. São diferentes porque estão longe de casa. E, às vezes, diferentes de mais nas coisas em que podiamos ser mais semelhantes. Mas, ainda assim, acho simpático que nos visitem: subirão ao elevador de Sta Justa, caminharão pelo Chiado, visitarão o Castelo de S. Jorge e de certeza que vão fotografar tudo e ficarão maravilhados com as ruas estreitas dos bairros antigos. E eu, apressada para chegar a horas à paragem do autocarro, à faculdade, a um encontro, dou passos largos e distraídos pela cidade. Com tantas coisas por fazer, tantos sítios para chegar a horas, tanta vontade de sair daqui e, ao mesmo tempo, tanto carinho por Lisboa, ainda penso se, mesmo sentindo esta como a minha casa, mesmo não usando sandálias com meias brancas, mesmo não me reconhecendo como diferente na cidade, conhecerão eles mais do que eu? Nunca subi ao elevador nem ao Cristo Rei, fui duas vezes ao Castelo e não é todos os dias que reconheço a beleza de Lisboa porque, para mim, a cidade é mais um cenário para tudo o resto que vai acontecendo, do que o acontecimento em si. É isso que torna os turistas diferentes. Apesar da roupa, apesar dos mapas e da máquina fotográfica no pescoço...porque há sempre uns que, ainda na sua condição de visitantes, se misturam e, a esses, já cheguei a perguntar, em português, se me sabiam indicar a praça de táxis mais próxima!

Consuelo