quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

O sexo do cérebro

Dizia-me a Pepita no outro dia que viu um programa de televisão onde falavam sobre as diferenças entre homens e mulheres com origem nas diferenças neurológicas. Investiguei.
Parece que este assunto tem sido motivo de várias investigações (nem sempre consensuais) e se, no início, os cientistas se mostravam cépticos quanto ao papel dos genes e das diferenças biológicas - devido à forte influência cultural como determinante comportamental - foram, à medida que as pesquisas aumentavam, chegando à conclusão que estas diferenças estão programadas muito antes que as influências externas tenham a oportunidade de se manifestar.
Um estudo revela que o cérebro dos homens é, em média, aproximadamente 10% maior do que o das mulheres, mas isto é devido ao maior tamanho corporal dos homens: um maior número de células musculares implica um maior número de neurónios para controlá-las.
Revela ainda que duas áreas nos lobos frontais e temporais relacionados com a linguagem são significativamente maiores nas mulheres, fornecendo assim um motivo biológico para a notória superioridade das mulheres no campo da linguagem.
Há ainda quem aponte motivos evolutivos na origem destas diferenças subtis, na maneira como o cérebro dos homens e das mulheres processam a linguagem, as informações, as emoções, o conhecimento: já há muito tempo, cada sexo tinha o seu papel muito bem definido, no sentido de assegurar a sobrevivência da espécie. Os homens caçavam, as mulheres cuidavam dos filhos. Cientistas arriscam que as áreas do cérebro podem ter sido desenvolvidas para permitir que cada sexo realizasse as suas tarefas e afirmam até que, quando mudamos deliberadamente o nosso comportamento, o nosso papel social, o cérebro responde, transformando-se também.

Generalizando, as mulheres tendem a identificar, com facilidade, figuras idênticas entre imagens semelhantes ou perceber se determinado objecto foi removido do seu lugar; são melhores em testes de associações de ideias. Distinguem-se também nas relações humanas, em reconhecer aspectos emocionais nas outras pessoas, na expressão artística e estética e na execução de tarefas detalhadas.
Além disto, afirma-se que a vida da mulher na nossa organização social, e também pela estrutura e funcionamento do seu próprio corpo, faz com esta dê mais atenção aos sinais vindos do interior: as mulheres lidam mais facilmente com as mensagens do inconsciente, da intimidade, ficando mais aptas para captar a percepção cognitiva da intuição.

Os homens pontuam na orientação espacial (o que explica o síndrome não-te-preocupes-eu-sei-o-caminho-e-não-preciso-de-pedir-informações...quem-é-que-está-a-conduzir?). Tem mais facilidade em visualizar objectos em rotação, identificar figuras geométricas escondidas num desenho, calcular distâncias e velocidades. Tendem ainda a manifestar mais independência, dominação, habilidades no campo da matemática, e alguma propensão para a agressão relacionada com a hierarquia.

Mas estas diferenças não implicam uma relação de superioridade de nenhum dos sexos: é fácil encontrar mulheres com um desempenho extraordinário em matemática e física, e homens com grandes aptidões para a linguagem. Os estudos consistem na avaliação de uma população muito grande e não espelham mais do que uma generalização.



Consuelo