segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

A Ciência do Amor, no Odisseia

Uma experiência científica que se destinava a determinar o papel da ciência no amor e na procura de um par compatível, neste caso, o par científico, juntou algumas pessoas, solteiros que não se conheciam e que concordaram em sair juntos, submetendo-se à análise de especialistas em linguagem não verbal.

Os encontros eram programados por estes cientistas e tinham por objectivo proporcionar situações diferentes: de perigo, de desafio, de humor, de surpresa e até a prática de exercício físico. Parece que estas situações, tanto pela libertação de certas substâncias no organismo como pela própria experiência que é partilhada, pode aproximar muito os potenciais casais. Por exemplo, uma experiência engraçada ou que cause surpresa funciona a favor da atracção física, não só pelo efeito das endorfinas mas também porque, no futuro, cada um dos indivíduos vai associar a pessoa a uma boa sensação!
Colocar os indivíduos nestas situações, em busca do parceiro perfeito, corresponde quase a pôr em prática uma fórmula científica que potencia a atracção!

Mas será que a ciência pode ajudar-nos a encontrar alguem compatível?

A segunda parte da experiência, após os encontros (alguns bons, outros não), consistia em cheirar t-shirts usadas durante 2 dias! Isto explica-se porque podemos sentir-nos atraídos por determinadas substâncias, feromonas, que actuam ao nível do subconsciente, que desempenham um papel quase tão importante como a atracção física que nasce do contacto visual. Os cientistas arriscam que, na busca de um parceiro que nos complete ao nível genético para efeitos de procriação, seja possível detectar diferentes genes (distingui-los mas não detectá-los especificamente) por exemplo através do odor das feromonas.
Em seguida, estes indivíduos observam as fotografias correspondentes aos cheiros que consideraram suportáveis. Ao mesmo tempo, usam um aparelho que mede a sua onda de excitação ao ver a imagem. Isto determina qual o seu par científico, como uma combinação de reacções a odores mais imagem.

Os pares científicos encontram-se numa festa e é analisada a linguagem não verbal: a maior parte das pessoas não se apercebe dos sinais que emite e, portanto, também não saberá identificá-los no parceiro mas a verdade é que o nosso corpo se comporta de forma diferente em função das pessoas com quem estamos. Por exemplo, virar as palmas das mãos para cima enquanto fazemos o movimento que leva ao abraço é um bom sinal; já os lábios cerrados e a mão na nuca indiciam alguma preocupação; se, sentados, orientamos o nosso corpo na direcção da pessoa com quem estamos, é sinal que queremos diminuir o espaço entre nós, queremos estar mais perto; o cruzamento dos braços acima da cintura denuncia ansiedade e pode inibir alguém que se queira aproximar!
Mas tudo se complica quando os sinais não são claros - porque a verdade é que se, muitas vezes, mesmo sendo claros para algumas pessoas, para outras já são indecifráveis - e quando isto acontece os cientistas sugerem testes, sendo o mais importante o teste do toque, para testar como é a reacção ao nosso toque - será que a pessoa nos tocará também?, será que se afasta?

Parece-me que a importância da codificação da linguagem não verbal no domínio da sedução e do romance é a de substituto, ou não, da linguagem verbal. Se sabemos falar, se sabemos (a maior parte das vezes) o que queremos, o que nos atrai, porque será tão mais fácil não falar e confiar que os sinais que emitimos serão suficientes para que alguém se aperceba do nosso interesse? (Isto no caso dos sinais serem conscientes porque, de outro modo, a questão da linguagem verbal não se coloca)
Será que se trata da dificuldade de falar sobre os afectos? Ou será que há espaço, nos jogos de sedução, para as duas formas de aproximação, a verbal e a não verbal? Ou será que a linguagem não verbal é muito mais confortável porque menos explícita e permite-nos, portanto, recuar na nossa investida quando os sinais não são favoráveis?

A título de curiosidade, no final da festa, a ciência acertou em 50% dos pares científicos. Alguns continuaram a sair juntos, outros não. Houve ainda um indivíduo que, mesmo quebrando todo o código de linguagem não verbal favorável à sedução, encontrou o seu par! Felizmente, isto põe em causa a existência de regras infalíveis para a busca do parceiro perfeito e o carácter científico da mesma, porque isto dos pares científicos não irá contra a ideia de romance? Um dos cientistas chega a afirmar que, apesar da curiosidade natural e inerente à sua profissão, sabe que quer continuar a pensar, ao estilo de Woody Allen, que o amor é uma doença incurável e que, mesmo nas alturas em que se sente a chegar mais perto da sua descodificação, inconscientemente, recua e recuará sempre, porque não quer descobrir tudo!

Os cientistas deixam, para os corações (ainda) solitários, uma dica: o maior sinal que denuncia o interesse de alguém por nós é quando essa pessoa se esforça por fazer algo que sabe que pode deixar-nos feliz!

Consuelo