sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Beijo (cá vai):

Gosto de como a palavra rola nos meus lábios. Gosto mais ainda como ela rola nos teus. Gosto do modo como a boca fica quando acabamos de dizer beijo: como quem pede por mais um.
(Como diz Consuelo) gosto do bê de beijo, na bochecha, na boca.
Gosto do beijo de boa-noite que me aconchega, mais que os cobertores; do beijo de bom-dia que dou contrariada porque acordo de mau- humor. Dos beijos na testa que me fazem sentir criança, e dos que se transformam em mordidelas e que me fazem rir.
Eu guardo os meus beijos, conto-os para que nunca me faltem para tos dar. Para que, quando as palavras escassearem, tenha ao menos um para te dizer que gosto de ti. Guardo ainda aquele beijo de pedra que me deste na praia. Como eu gosto da lembrança de um beijo eterno! Como aqueles que encontramos no cinema, no auge de um final feliz!
O meu sangue pela doçura do seu riso,
o meu reino por um beijo no seu ombro... Palavras de um músico/poeta morto. Mas que deve ter dado beijos doces por tê-los pedido com tanta dedicação!
Para mim, o beijo é o substântivo que pode adquirir tantos adjectivos deliciosos! É o substântivo que se torna verbo, acção: Eu beijo, tu beijas, nós beijamos...
Porque para mim o beijo é a recordação das pessoas queridas, é dizer mais que um rio de palavras, para nos afogarmos no outro. É o sorriso que esboço quando ando pelas ruas até chegar a ti.
Por isso é que os guardo, contados para os dar a quem importa.

(...)Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei para a minha boca!...
Florbela Espanca

Pepita